domingo, 27 de agosto de 2017

RODEIO

Sempre, o poema que se anuncia
Parece ser o último.
Reverências por toda a parte:
A cidade parou,
A noite emudeceu e
Os ruídos todos da minha alma
Alcançam completa significação.

Sei que amanhã a mesma história se repetira:
Passos lentos,
Voz trêmula,
Compromissos inadiáveis...
Farei pequenas loucuras e me sentirei absurdamente feliz
Apesar da inexplicável significação das coisas.

Sempre assim...
A poesia me alcança,
Alcançarei o poema.
Ela vem na sua absurdeza de sentido
Ele está, sem que eu o veja ainda,
Encarapitado nela.
Uma luta de nervos em que ela o atira para a possível
Vitória da significação.


Sei que amanhã a mesma história se repetira.

domingo, 20 de agosto de 2017

SONETO DE UMA MORTE ANUNCIADA

Ele me falou da sua vida
Como quem já não quer mais:
Hora após hora sempre iguais
Por mais que fosse impressentida.

Ele me falou da fenecida
Flor dos seus velhos ideais
Já que haviam roubado, os pardais,
A esperança inconsentida.

Falou-me de lábios e de beijos,
Chorou a tristeza dos desejos
Corroído talvez pelo seu mal.

Num breve gesto de partida
Insinuou uma despedida
E saiu para a morte, afinal.