quinta-feira, 5 de outubro de 2017

INSTANTE ETERNO

Amor absoluto!?
Elo absoluto!?
Sabes como ninguém me colocar diante da minha impotência.
Elevas o chão dos teus sonhos
A ponto de dissipar minhas asas,
e me colocas dolorosamente rasteiro,
diante de horizontes indecifráveis.

Por um momento bateu em mim um sopro de força.
Quis acreditar que podia e insinuei um verso com vigorosa grandiloqüência,
vislumbrei o palácio encantado da ventura
mas ridiculamente turvou-se o fundo alabastrino da quimera maravilhosa.
Não sou o Ulisses da tua saga idílica,
nem Quixote, nem Sancho eu sou.
Falta-me tudo que poderias amar
mesmo remotamente.
O que tenho senão a “incomensurável ternura” que só tu enxergaste?

Quando anunciei teu pranto não esperava que sofresse
além do sofrimento inerente a todo sentimento,
as lágrimas inevitáveis da profunda emoção
do encontro inesperado, supostamente impossível.

Queres-me, afinal, “embriagado de inteireza, sem incertezas”,
com beijos exclusivos?
Por Deus, como poderia ser de outra forma?
Tenho impulsos de gritar-lhe mil vezes “eu te amo”,
mas seria inócuo, não é?
Estás contaminada pela descrença.
Minhas palavras se perdem no labirinto das tuas dúvidas,
filtradas pelas lentes das tuas neuroses.

Estamos nos destruindo no ermo da virtualidade.
Talvez seja melhor deixar que nossas vidas se encontrem
e o encontro das nossas almas se processe.
Talvez a linguagem do corpo dê respostas mais duradouras,

provisoriamente absolutas.

4 comentários:

  1. Essa eternidade de um minuto me seguirá por toda a minha vida. Poema que me fala em silêncio desmedido.

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    1. Encontrei este poema na pasta "inacabados" e percebi que estava acabado, apesar que o instante perdura.

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  2. Verdadeiramente este poema ultrapassa a alma, e se esconde no silêncio da vida.

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